Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro 1860) foi um filósofo bastante atípico em uma época onde o racionalismo herdado das escolas de pensamento iluministas era muito predominante na filosofia, sobretudo no sistema idealista alemão representado por Fichte, Schelling e Hegel. O fato de Schopenhauer ter sido tão diferente dos demais pensadores deve-se a razão dele ter sido um dos principais porta-vozes da irracionalidade ocidental, caminhando dessa maneira na contramão do cenário filosófico, bem como Kierkegaard que desmistificou a razão, bem como Michel de Montaigne que, ao contrário dos seus contemporâneos renascentistas, assegurou que a racionalidade não conduz à felicidade e que boa porção de nossos problemas é devido à razão. Além do mais, Schopenhauer também foi aquele que introduziu na metafísica alemã o Budismo e o pensamento hindu, do mesmo modo que também trouxe ao terreno da filosofia a importância da vontade, sendo esta uma espécie de “Deus” panteísta.
A doutrina de Schopenhauer desenvolveu-se a partir do pensamento de Platão e Immanuel Kant, como ainda da filosofia oriental (Hinduísmo, Skhismo, Jainismo, Budismo, Taoísmo, etc.), dessa influência oriental, em análise profunda, é possível deduzir que foi dela que Schopenhauer partiu para construir a parte de sua filosofia que valoriza o irracional. Mas, em especial, será em Crítica da Razão Pura - uma das mais centrais obras de Kant - que Schopenhauer vai elaborar sua epistemologia. Portanto, é inadmissível tratar do pensamento schopenhaueriano sem antes abordar a filosofia de Kant, mesmo que tal abordagem seja rápida.
Immanuel Kant é o filósofo que vai fazer uma síntese entre o racionalismo continental e a tradição empírica inglesa, elaborando assim sua epistemologia. Kant desenvolve sua teoria do conhecimento com base na leitura de David Hume, Francis Bacon, John Locke, George Berkeley, Leibniz, Descartes, et caetera. Porém, será David Hume a pedra fundamental de sua teoria epistemológica.
Segundo Hume, a base do conhecimento são as impressões e relações entre as idéias, como as associações. Esse conceito será essencial no desenvolvimento da epistemologia de Kant.
A teoria do conhecimento kantiana diz que aquilo que o sujeito apreende do mundo real pela utilização de seus sentidos é a “matéria” do conhecimento, que são os dados, as impressões do mundo externo. Sobre essa “matéria” (que para Hume seria a impressão, sendo a idéia reflexo desta) o espírito elabora a “forma” (os conceitos, as idéias, as leis, etc.). Esta forma é construída conforme as categorias a priori que servem para organizar os dados obtidos no decurso da experiência. As categorias a priori são: causalidade, quantidade, qualidade, falsidade, verdade, finalidade, particularidade e universalidade. Isso significa que o conhecimento nasce da experiência com a realidade, todavia essa experiência passa pelo um filtro antes de chegar ao intelecto. Esse filtro seria a parte da estrutura corpórea do homem que permite que ele tenha certo nível de noção da realidade: os sentidos, o sistema nervoso central, e assim por diante. Mas, uma vez que essa experiência sofre modificações e limitações de determinado filtro, a realidade que chega até o juízo não é mais a mesma. Por sua vez, o juízo ainda agrega uma forma ao produto daquilo que fora capturado outrora pela experiência sensível com o mundo. Em síntese, a realidade da essência íntima das coisas é incognoscível. Por isso para Kant o mundo é dividido em dois: o mundo da Coisa em-si (o mundo do nôumeno, isto é, a realidade que não é oferecida ao homem, que é a realidade tal como ela é) e o do fenômeno (a realidade que se mostra ao sujeito do conhecimento, mas que não corresponde fielmente à realidade da Coisa em-si). Kant diz ainda que quando a razão procura o entendimento dessa coisa em-si (nôumeno em termos kantianos), confronta-se com obstáculos intransponíveis e soluções tão-somente contraditórias, sendo assim, permanecendo um conhecimento além do alcance de nosso limitado intelecto.
No começo do mais importante livro de Schopenhauer – O Mundo como Vontade e Representação – ele afirma: “O mundo é minha representação.”. Quer dizer, o mundo é dado à percepção apenas como representação. A percepção, pois, delimita o real. Esta é a tese substancial de sua concepção filosófica - o mundo só pode ser percebido por meio de representações. Deste modo, o mundo é puro fenômeno ou representação. Estando a essência do mundo naquilo que condiciona o seu aspecto exterior, a vontade, que é a coisa em-si do mundo, sendo ela una, indizível, infinita. Logo, a essência do mundo não está propriamente nele, e sim na sua força motriz, ou seja, a vontade, que se manifesta sempre no sentido de sua plena sobrevivência e realização. Sendo a vontade a essência do mundo, a realidade não passa de pura irracionalidade. Ao contrário de Hegel que dizia ser o real racional, Schopenhauer articula que a realidade é vontade irracional. Nesse sentido, Schopenhauer também se opõe a Platão, filósofo que considerava que o verdadeiro mundo é o das idéias, o mundo inteligível, o mundo concebido racionalmente. Já em relação a Kant, Schopenhauer compartilha da mesma idéia kantiana que separa o mundo em dois. Contudo, em Schopenhauer a essência íntima das coisas pode ser capturada pela intuição, mesmo que ela esteja encoberta pela representação, pelo véu de Maia.
Arthur Schopenhauer é um filósofo que supervaloriza o conhecimento e que atribui pouquíssimo valor a racionalidade. Ainda no livro O Mundo como Vontade e Representação, Schopenhauer inicialmente faz a afirmação de que há dois tipos de conhecimento, um é o intuitivo e o outro é o racional. O conhecimento racional (também chamado de abstrato) é o dos conceitos. E é por semelhante porquê que Schopenhauer não valoriza tal natureza de conhecimento, pois para ele os conceitos são apenas representações de representações. Segundo Schopenhauer, o conceito é uma imitação em signos lingüísticos do que a intuição e o juízo entendem de outras maneiras. Por isso o conhecimento intuitivo é de onde Schopenhauer extrai o aglomerado de sua ciência.
Muitos foram os escritores influenciados por esse filósofo dono duma concepção profundamente pessimista em relação à existência, como, p.ex., Nietzsche, Franz Kafka, Tolstói, Jean-Paul Sartre, Machado de Assis, Wagner, Thomas Mann, Sigmund Freud, Ludwig Wittgenstein, Zola, Nicolai Hartmann, Bergson, Jorge Luis Borges, Jung, Proust, Augusto dos Anjos, entre outros. Como diz Thomas Mann: “Schopenhauer coloca-se entre Goethe e Nietzsche; ele realiza a passagem entre eles: mais ‘moderno’, sofredor e difícil que Goethe, mas muito mais ‘clássico’, robusto e saudável que Nietzsche.
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